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José Amaro Lopes de Souza, o padre Amaro, é acusado de liderar uma ocupação irregular; a principal testemunha de defesa dele foi assassinada. (Foto: Reprodução) |
A principal testemunha de defesa do processo judicial sobre invasão irregular de terras movido contra o padre Amaro Lopes de Souza, da T (Comissão Pastoral da Terra), foi assassinada com uma facada no pescoço, por um homem desconhecido, em uma estrada vicinal entre os municípios de Anapu e Pacajá, na região sudoeste do Pará. O assassinato de Marcio Rodrigues dos Reis, 33, ocorreu na noite da última quarta-feira (4), mas foi divulgado hoje.
Padre Amaro é o sucessor da missionária Dorothy Stang, assassinada em 2005, e atua na luta por posse de áreas públicas para trabalhadores rurais sem-terra no Pará.
Até agora, nenhum suspeito do assassinato foi preso. O crime está sendo investigado pela delegacia de Anapu. Segundo a T, com essa morte, já são 15 assassinatos registrados em Anapu envolvendo trabalhadores rurais desde 2015. A T afirma que existe uma milícia, formada por pistoleiros e grileiros, responsável pela série de assassinatos.
Marcio Rodrigues dos Reis sofria ameaças de morte, segundo a T, por ter se recusado a incriminar o padre Amaro, por meio de declaração falsa, pela liderança de uma invasão irregular de terra na fazenda Santa Maria, em Anapus, em 2016. O padre ficou preso por 92 dias no ano ado pela acusação baseada em depoimentos de fazendeiros.
Segundo a T, Reis teria sido pressionado por um delegado, que teria contato com o proprietário da fazenda, a acusar o padre Amaro de liderar a ocupação nas terras e em outras propriedades da região. A T disse que Reis negou qualquer tipo de participação do padre e tornou-se a principal testemunha de defesa dele na acusação.
Reis trabalhava como mototáxi e foi encontrado morto com uma facada no pescoço, depois que um homem não identificado fez uma corrida com ele para a zona rural de Pacajás. “Antes de chegarem ao suposto destino, o ageiro pistoleiro desferiu um golpe de faca em seu pescoço, Marcio não teve como reagir e teve morte instantânea. Seu corpo foi localizado por pessoas que trafegavam pela vicinal e avisaram a polícia”, relata a T.
A Polícia Civil do Pará informou que policiais estiveram no local do crime, fizeram a remoção do corpo com ajuda de um agente funerário. Ontem o corpo foi levado para necropsia no Instituto Médico Legal de Tucuruí. Ainda não há informações sobre a liberação do corpo de Reis para enterro.
O crime está sendo investigado pela delegacia de Anapu, município vizinho à Pacajá. A mulher de Reis, Fernanda Lima Pereira, e uma testemunha, identificada pelo nome de Josenildo Lopes de Santana, já prestaram depoimento na delegacia de Anapu, mas o conteúdo dos depoimentos não foi divulgado pela polícia.
A ocupação
Famílias sem-terra montaram acampamento em 2016 na fazenda Santa Maria. Elas reivindicavam serem assentadas no lote 44 da Gleba Bacajá, ocupada pelo fazendeiro Silvério Albano Fernandes. Na época, o Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) de Altamira ingressou com ação judicial para arrecadar a fazenda sob alegação de a propriedade estar em terra pública federal. A Justiça Federal em Altamira determinou a imissão de posse do Incra, mas o fazendeiro impetrou com recurso. Atualmente, o caso aguarda julgamento final no TRF-1 (Tribunal Regional Federal), em Brasília.
A T relata que ainda durante a ocupação, em 2016, ocorreu um acordo entre acampados e fazendeiro, mediado pelo governo do Estado e Ouvidoria Agrária, para que as famílias permanecessem acampadas fora dos limites da propriedade, até que todos os recursos fossem julgados.
“Meses depois do acordo, um grupo de fazendeiros e pistoleiros fortemente armados, liderados por Silvério Fernandes, invadiu, ateou fogo, destruiu o acampamento e expulsou as famílias”, diz a T.
Em 2017, um grupo de agricultores tentou reerguer o acampamento na fazenda Santa Maria, mas Marcio Reis acabou preso sob a suspeita dos crimes de esbulho e posse de arma por cerca de nove meses na penitenciária de Altamira. A T afirma que durante a ação, o fazendeiro acusou o padre Amaro de estar comandando ocupação da fazenda Santa Maria. Ainda segundo a comissão, Reis foi pressionado a incriminar Amaro, mas se recusou. O religioso, porém, foi preso.
No ano ado, Reis foi absolvido da acusação de esbulho, mas condenado a dois anos de prisão pelo crime de posse de arma. Ele foi preso novamente e ficou por cerca de cinco meses.
A T afirma que existe em Anapu uma milícia rural composta por pistoleiros, organizada por madeireiros e grileiros de terras públicas. “Quem contraria seus interesses está sentenciado à morte”, denuncia a entidade, destacando que lideranças estão indo embora de Anapu com medo de serem assassinadas. “Enquanto isso, a grilagem e o desmatamento avançam sobre as áreas de assentamento criados”, diz.
O UOL tentou localizar o fazendeiro Silvério Albano Fernandes durante o dia de hoje, mas não conseguiu. A reportagem também tentou localizar os advogados dele, mas sem sucesso.
Fonte: UOL
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