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© Fernando Llano (AP) Juan Guaidó chega a uma concentração em Caracas, nesta segunda-feira. |
A disputa política na Venezuela entra
em uma nova fase. Juan Guaidó se livrou na
segunda-feira da primeira ameaça de detenção e retornou ao país de modo
triunfal. O presidente da Assembleia Nacional, reconhecido como
presidente interino por mais de 50 Governos, voltou após desafiar Nicolás
Maduro com sua saída há mais de uma semana após ser proibido
pela Justiça. O fez em um voo comercial, entrando pelo aeroporto internacional
de Maiquetía (Caracas), como havia anunciado, um sinal da determinação do
político venezuelano e uma concessão de Maduro, já que não faz sentido pensar que
poderia aterrissar e ar pelos controles de imigração sem sua aprovação.
A entrada de Guaidó por Maiquetía pode ser
interpretada como um sinal de fraqueza do chavismo, submerso como nunca em uma pressão internacional após
a violenta resposta dada em 23 de fevereiro na fronteira e que
até essa segunda-feira continuava dividido, de acordo com vários líderes oposicionistas
conhecedores dos os de Guaidó, entre a ala mais radical, liderada por
Diosdado Cabello, presidente da Assembleia Nacional Constituinte, e o círculo
mais próximo a Maduro, entre eles os irmãos Rodríguez, Jorge e Delcy [ministro
da Comunicação e vice-presidenta], partidários de se evitar uma prisão. Pelo
menos, não por enquanto. Também não esclarece a incógnita de se o alto comando
militar optou por não se submeter a outra tentativa de pressão que permita
rachá-lo, após a deserção de mais de 700 militares nas últimas semanas.
Depois de mais de uma semana fora do país e
após o fracasso na tentativa de entrada de ajuda humanitária pelos diversos
pontos da fronteira, as expectativas que a liderança de Guaidó geraram
enfraqueceram. De modo que também há uma boa dose de cálculo político em uma
parte do comando chavista, que procura diminuir a relevância e Guaidó, à espera
de seus próximos movimentos, sabendo que controlam todos os estamentos do país
com exceção da Assembleia Nacional, cujas decisões, de fato, quase não têm
importância. “Não iremos cair em provocações”, disse um dirigente de alto
escalão. Nos primeiros momentos, o hermetismo diante do retorno de Guaidó era
absoluto. Se geralmente o chavismo tende a contra-atacar os atos da oposição, nesse
caso, os únicos movimentos públicos percebidos eram nas contas das redes
sociais, em que se pedia à população que continuasse comemorando carnaval.
A presença de Guaidó na Venezuela submete
também a oposição a sua própria encruzilhada. O fantasma de uma intervenção
militar, que os setores mais radicais agitaram com força nos últimos dias,
ficou, pelo menos por enquanto, diluído, enquanto o chavismo diminui a tensão
ao não deter Guaidó. Entre os dirigentes mais jovens, a chamada Geração 2007,
que se fortaleceu em torno da figura do presidente da Assembleia Nacional, a
sensação é que o principal é evitar um cenário que permita a Maduro ganhar
tempo e resistir, porque, sentem, é onde melhor se sai. Para consegui-lo,
muitos deles têm certeza que não se deve voltar à situação de duas semanas
atrás em que Guaidó ia de um lado para outro apresentando seus planos, como
também são necessárias medidas e propostas concretas ao chavismo para se chegar
a uma saída pacífica. Quais devem ser adotadas e como fazê-lo são motivos de
intensos debates na oposição, um amálgama de forças e espectros ideológicos, em
que os veteranos políticos começam também a tentar se aproveitar de uma
situação que não esperavam no começo do ano. Um compêndio de líderes em que tem
papel determinante o que permanece, por decisão do chavismo, preso: Leopoldo
López, detido em 2014 e ainda em prisão domiciliar.